Números invisíveis, sujeitos invisibilizados: a ausência de dados públicos sobre raça e etnia na educação básica do Estado do Rio de Janeiro como entrave para a superação do racismo

Autores

DOI:

10.47270/ra.v6i12.907

Palavras-chave:

Pertencimento étnico-racial, Desigualdade, Branquitude

Resumo

Esta pesquisa demonstra como a ausência de dados públicos de rendimento escolar vinculados ao recorte étnico-racial na Educação Básica nos municípios do Estado do Rio de Janeiro constitui como um entrave para a formulação de políticas públicas educacionais no que tange a melhoria do rendimento escolar da população negra. A pesquisa teve caráter quali-quantitavo e a metodologia utilizada contou com o levantamento bibliográfico e a busca por dados públicos de rendimento escolar a partir de pertencimento étnico-racial nas secretarias municipais de educação no Estado do Rio de Janeiro. Os resultados apontam que a não vinculação de dados remete à ideia de que os problemas da educação são ocasionados somente por questões de desigualdade socioeconômica, desconsiderando a questão racial em sua compreensão. Além disso, verifica-se que a indisponibilidade de dados publicizados pelas instituições revela a manutenção do racismo estrutural e institucional em sua organização. Ao mesmo tempo em que os dados são indisponíveis, sujeitos são ocultados em detrimento de uma parcela da população que se beneficia da branquitude e seus privilégios. Assim, alunos negros e pardos que constituem a maioria na Educação Básica no Estado do Rio de Janeiro são invisibilizados.

Biografia do Autor

Elaine Paz da Costa, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro

Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012). Pós-graduação em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica pelo Instituto Federal do Espírito Santo (2022). Pós-graduação em Educação para Relações Étnico-raciais pelo Instituto Federal de Minas Gerais (2023). É servidora pública na Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro desde 1994, onde atuou em funções administrativas, operacionais e de sistema, tanto em escolas como na sede da Secretaria de Educação. Atualmente está lotada no setor de análise de indicadores educacionais, que é voltado para estruturar e analisar dados educacionais de aprendizagem a partir de bases de dados que contém medidas de aprendizagem, sejam aquelas geradas por testes padronizados, seja pelos ciclos avaliativos das unidades escolares, desenvolvendo processamento e tratamento desses com vistas à produção e divulgação de relatórios. Área de estudos correlatas as temáticas de educação, gênero e relações raciais no Brasil. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação.

Raphael Rodrigues, Instituto Federal Baiano

Doutor e Mestre em Antropologia Social pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos); Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela UNESP (Universidade Estadual Paulista). Realizou pesquisas etnográficas com os povos indígenas Tukano e Desana da Terra Indígena Alto Rio Negro (noroeste amazônico) e foi consultor em Educação Escolar Indígena pela UNESCO. Atualmente, é professor da área de Ciências Humanas do Instituto Federal Baiano, campus Bom Jesus da Lapa e professor colaborador do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), onde leciona na Especialização em Educação para Relações Étnico-raciais. Temas de pesquisa e extensão: mobilidades, migração e parentesco de Povos e Comunidades Tradicionais.

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Publicado

30-06-2024

Como Citar

COSTA, Elaine Paz da; RODRIGUES, Raphael. Números invisíveis, sujeitos invisibilizados: a ausência de dados públicos sobre raça e etnia na educação básica do Estado do Rio de Janeiro como entrave para a superação do racismo. Revista AlembrA, [s. l.], v. 6, n. 12, p. 112–135, 2024. DOI: 10.47270/ra.v6i12.907. Disponível em: https://periodicos.cfs.ifmt.edu.br/periodicos/index.php/alembra/article/view/907. Acesso em: 20 nov. 2024.

Edição

Seção

Dôssie Relações étnico-raciais na escola em pauta