Performances do refúgio em A Embaixada Americana, de Chimamanda Adichie, e By the Sea, de Abdulrazak Gurnah
DOI:
10.47270/ra.v6i13.1041Palavras-chave:
Performance, Narrativas, Refúgio, ResistênciaResumo
Este artigo examina como narrativas ficcionais retratam a relação de refugiados com a performance de autenticidade exigida em seu processo legal. O texto parte da noção de “história de refúgio” (asylum story), que, segundo Woolley (2017), é uma forma ordenada e coerente de narrar a experiência de refugiado, performada de forma crível perante o Estado. As duas obras analisadas narram um encontro entre um solicitante de refúgio e um representante do Estado: numa embaixada, no conto A Embaixada Americana, de Chimamanda Ngozi Adichie, e num aeroporto, no romance By the Sea, de Abdulrazak Gurnah. Em ambas as obras, a ficção possibilita expandir as possibilidades narrativas, explicitando como as experiências de refugiados excedem o que cabe numa entrevista de fronteira. No entanto, há uma diferença na atitude de cada protagonista. No conto, a narradora se recusa a calcular como deve se portar na entrevista, abdicando da proteção dos Estados Unidos. Já no romance, o personagem faz o oposto: mente para se encaixar no enredo que é esperado dele e consegue entrar no Reino Unido aproveitando-se da própria lógica estatal, segundo a qual o refugiado é uma “figura de falta” (NGUYEN, 2019). Conclui-se que a resistência não se dá necessariamente pela recusa à política da cidadania. Ela também pode significar assumir taticamente a performance exigida pela “história de refúgio”.
Referências
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